Ronaldo planejou o sequestro de Custódio, mas o crime acabou não dando certo. Ronaldo foi parar na prisão por outros crimes. Foi quando recebeu uma visita que iria mudar a vida dele para sempre.
Conheça uma história surpreendente. Ela começa no dia em que um homem tentou sequestrar um empresário. O que aconteceu depois? Patrícia Poeta vai contar.
No horário nobre da ficção, quem tem se destacado é a realidade.
São caprichados roteiros da vida real.
"São depoimentos reais, não são forjados. Não pertencem ao campo da ficção. O público percebe e sente que todos aqueles casos de superação realmente aconteceram, são palpáveis, existem. Então, o público se comove muito", explica o autor de "Viver a Vida", Manoel Carlos.
Entre tantos personagens reais que apareceram nos finais de "Viver a vida", um chamou atenção especial: Ronaldo Miguel Monteiro. "Uma experiência muito forte para mim foi encontrar uma das minhas vítimas", contou no depoimento que deu no fim da novela
Ronaldo, um ex-presidiário, começou a se envolver com o crime aos 14 anos. Na década de 1980, ajudou a espalhar uma onda de terror no Rio de Janeiro.
"Eu descobri que tinha uma maneira mais fácil de ganhar dinheiro e passei para a extorsão mediante sequestro. O primeiro deu certo, o segundo deu certo, outros deram certo até ter uma grande tacada. Eu conheci um empresário e aquele homem foi indicado como potencial vítima para meus crimes de sequestro", explica.
Levamos Ronaldo para a cena de um crime que quase aconteceu.
Patricia Poeta: Nesse tempo, o único sequestro que você planejou e que não deu certo foi nessa garagem? Qual era o plano exatamente?
Ronaldo: Seria um sequestro seguido de morte após o pagamento do resgate. Por volta de 9h30, ele entrou na garagem com o carro verde, que eu já tinha identificado, e ele estava sozinho. Era o motorista. Ele entrou na garagem, e o portão foi fechado. Nós aguardamos a saída, porque era o plano, e ele não saiu. Até que uma hora depois, nós decidimos invadir . E ele não estava, nem o carro, nem o empresário.
Patricia Poeta: Depois de quanto tempo, você acabou sendo preso pela polícia?
Ronaldo: Nós iniciamos uma nova ação, e no prazo de cinco meses eu fui preso.
Ronaldo, então, foi condenado a 28 anos de prisão pelos 10 sequestros que cometeu.
Nesse período, a vida de Ronaldo tomou outro rumo depois de uma visita que ele recebeu. A visita era de Custódio Rangel, um homem que seria a vítima do sequestro planejado pelo Ronaldo, mas acabou não acontecendo.
Patricia Poeta: O que levou o senhor a visitar o homem que ia sequestrá-lo e ia matá-lo também?
Custódio Rangel: Pois é, Jesus amou todos. Temos que fazer alguma coisa. Então, uma boa pescaria seria se eu ganhasse Ronaldo para Jesus. E aconteceu isso.
Patricia: Ronaldo, o que você sentiu quando viu seu Custódio indo procurar por você na prisão?
Ronaldo: Isso é muito forte. Você não encontra palavras, só alguém que vive na marginalidade e se depara com uma vítima que diz "eu te perdoo", poderia responder. E com certeza ela não vai encontrar palavras. Nós sentimos.
A visita do empresário transformou a vida a de Ronaldo. Dentro da prisão, ele passou a trabalhar com projetos sociais. Condenado a 28 anos, ficou 13 na cadeia e ganhou o direito à condicional. Ao sair, adivinhe quem deu a ele o primeiro emprego, a primeira carteira assinada? O próprio Custódio.
Patricia: Custódio, nesse momento não bateu uma insegurança ou medo em relação ao Ronaldo?
Custódio: Não, nunca tive medo.
Ronaldo trabalhou dois anos com Custódio e depois seguiu o próprio caminho. Hoje, ele coordena uma ONG que ajuda presos a se qualificarem profissionalmente.
Patricia: Custódio, qual é a sensação de saber que com a sua iniciativa você acabou ajudando não só uma, mas algumas pessoas?
Custódio: Isso é uma sensação tremenda. É muita alegria no coração para poder reverter uma situação dessas.
Patricia: Ronaldo, você imagina como seria a sua vida se você não tivesse recebido a visita desse senhor?
Ronaldo: Eu não imagino.
Patricia: Você acha que teria saído do mundo do crime assim mesmo?
Ronaldo: Eu teria continuado no crime, até hoje tenho propostas, mas o amor às vidas é muito maior. É o amor que levou o Custódio até um presídio de segurança máxima para ter um encontro com seu pretenso algoz.
Patricia: Ronaldo, para gente encerrar, o que o Custódio foi para você e tem sido para você?
Ronaldo: Olha, se eu não lembro ter um dia agradecido formalmente, acredito que esse é o momento pra agradecer. Eu quero dizer que hoje eu dedico a minha para realizar um pouco do ato que o senhor realizou durante toda a sua vida. Eu deixo isso registrado, que ele acreditou, que muitos acreditaram, e milhões vão acreditar que o homem pode mudar.