Pastor Batista, líder da igreja Crash Church e vocalista da
banda cristã de death metal Antidemonimagem: Reprodução/Instagram
* * * Extraído do Portal UOL * * *
Alba Santandreu De São Paulo
É
dentro de uma garagem de São Paulo que soam os primeiros acordes de Heavy
Metal. A letra fala de Jesus Cristo e de salvação e seu palco é a Crash Church,
uma igreja evangélica frequentada pelos fãs do rock que buscam a palavra de
Deus através da música.
Como em um show de
rock pesado, os fiéis usam roupas escuras e sacodem fortemente a cabeça quando
o baixo e a bateria começam a soar em uma sala pintada de preto e decorada com
tribais brancos.
Depois de várias
canções, as pessoas, algumas com camisetas do Metallica e do Joy Division, se
acalmam e o pastor Batista começa o culto. Ao contrário da maioria dos
ministros evangélicos, ele não usa terno e gravata, mas calça jeans e um tênis
branco e vermelho.
As tatuagens -
todas com referências cristãs - cobrem seus braços, brincos adornam suas
orelhas e na barba ele exibe uma trança acinzentada de 4 centímetros.
Além de pastor,
Batista é vocalista da banda cristão de death metal Antidemon e um dos
fundadores desta igreja "não convencional" criada em 1998 por "necessidade
divina".
"Isto faz
parte de um plano de Deus para superar barreiras de formatos mais fechados e
que deixavam de alcançar muitas vertentes da sociedade", disse Batista, em
referência a outras correntes mais conservadoras, como a poderosa Igreja Universal
do Reino de Deus e a Assembleia de Deus.
Maria Aparecida
Castellini, de 54 anos, tem sete filhos e três são membros de igrejas
evangélicas tradicionais que não "toleram" sua estética punk: cabelo
verde, unhas pintadas, batom azul e roupas rasgadas que possibilitam ver
algumas partes de sua pele.
Ela se declara
"louca" por Jesus e pelo rock, mas não é por isso que vai "para
um hospício", como foi aconselhada na Renascer em Cristo, sua antiga
igreja.
"Diziam que o
rock era pecado, que era coisa do demônio. E eu perguntava: 'Deus, será que
estou no lugar certo?'", lembrou ela, que diz andar até duas horas para
assistir ao culto da Crash Church.
Atrás de um
púlpito com ares medievais, o pastor Batista lê o evangelho, enquanto os fiéis
o acompanham em seus telefones celulares, na bíblia de papel ou através de
televisores onde as passagens são reproduzidas.
Batista usa
jargões para explicar a palavra do Senhor e intercala as leituras com músicas
de rock, que, apesar da intensidade, não acordam dois bebês de poucos meses que
dormem nos braços das mães, nem abalam uma senhora de uns 80 anos que escuta
impávida o som.
Em um de seus
discursos, o pastor compara a história de Jesus com a da igreja e enfatiza que,
apesar do preconceito, eles também são "de Deus".
"As pessoas
não esperam uma Igreja como nós. Não esperam que com esse estereótipo sejam
pessoas de Deus. Jesus não parecia o Messias, assim como nós não parecemos
evangélicos. Em várias partes do mundo estão nascendo movimentos como esses,
igrejas e pessoas se abrindo para levar Jesus de todas as maneiras, uma maneira
que se possa entender", assegurou.
Em sua opinião,
igrejas como a Crash Church contribuíram para a expansão da religião
evangélica, que, ao contrário do catolicismo, ganhou espaço nos últimos anos no
Brasil.
De acordo com
dados de 2016 do Datafolha, em 1994, 75% dos brasileiros se declaravam
católicos, mas essa porcentagem caiu para 50%, enquanto os evangélicos
avançaram até representar 29% da população.
Somente entre 2014
e 2016, o catolicismo perdeu 9 milhões de fiéis no país. Conforme o mesmo
levantamento, o número de brasileiros que se declara cristão pentecostal saltou
de 10%, em 1994, para 22%, atualmente, enquanto os não pentecostais passaram de
4% para 7%.
Tags: Atualidades, Bíblia,
Church, Evangelho, Fim dos Tempos, Igreja, Jesus Cristo, UOL
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