* * * Extraído do Portal IG * * *
Representantes de religiões diferentes da católica acreditam que medida estimula o preconceito
Flávia Salme, iG Rio de Janeiro | 14/06/2011 22:00
Desde que foi encaminhado pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB) à Câmara Municipal, o projeto de lei 862/2011, que cria o cargo de professor de ensino religioso nas escolas publicas da capital, tem provocado desavenças. A audiência pública realizada nesta terça-feira (14) no plenário do Palácio Pedro Ernesto reuniu representantes das mais distintas religiões: católicos, kardecistas, evangélicos, candomblecistas, umbandistas, islâmicos, hare krishnas, ciganos, protestantes, presbiterianos e até bruxos wiccas estavam no local.
Se todos entoam em uníssono que as religiões têm por base praticar o bem e criar valores, os argumentos soam dissonantes quando a busca é pelo consenso. "Aula de ensino religioso não é catequese", disparou o padre Paulo Alves Romão, professor da PUC-RJ. "É produção de conhecimento, de princípios sólidos para a ordem social. Quando você afirma valores fundamentais, presentes em todas as religiões, você se torna capaz de dialogar com os diferentes", defendeu.
O deputado estadual e católico Márcio Pacheco (PSC) afirmou que a proposta tem como objetivo "dar às crianças pobres as mesmas oportunidades que as crianças abastadas têm". "As escolas boas não oferecem só matemática e português. Vejam quantos judeus matriculam seus filhos em escolas judaicas e quantos católicos colocam seus filhos em colégios católicos. Querem que tenham uma educação completa. Mas essa opção só é dada a quem pode pagar e o que estamos discutindo aqui é que essa opção seja dada aos que não podem", argumentou Pacheco.
Presidente da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento Islâmico, o sheikh Ahmad Mohammed argumentou que se por um lado o Estado é laico, por outro, não é ateu. "Num mundo onde a família foi devastada e muitas vezes as mães não têm tempo de ensinar a seus filhos sobre religião, cabe, sim, à escola oferecer essa oportunidade as crianças".
De opinião contrária, o cigano Mio Vacite rebateu: "A impressão que passa é de que se a pessoa não tiver educação religiosa ou ela é vagabunda ou bandida", argumentou. "Tenho medo da ditadura religiosa. Se estamos em um país democrático, temos de pensar muito. A moral não está só na religião".
A umbandista Fátima Damas se juntou ao coro dos contrários. "A gente sabe que nas religiões minoritárias as crianças sofrem preconceitos", afirmou. "Mas se essa lei for aprovada, que se contemple a todos. Se não puder, que deixem a educação religiosa ser dada por pais e mães", sustentou.
O bruxo Og Sperle, sacerdote da religião Wicca, contestou a tese de que religião é garantia de boa índole. "A religião não tem a premissa de moldar o caráter. Se fosse assim, não teríamos tantos casos de pedofilia em igrejas", argumentou.
"Vejo que a minoria, em sua grande maioria, é contra", disse o vereador Jorge Braz (PTdoB), bispo evangélico e contrário à proposta. "Essa lei vai passar. Não porque está prevista em nossa Constituição. Sabemos que a maioria dos nossos parlamentares é católica. Chega de hegemonia".
A diretora de diálogo inter-religioso da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Diane Kuperman, acrescentou mais uma crítica ao debate: "Na nossa rede pública faltam professores de Matemática, Português, História etc... E nós vamos gastar o dinheiro dos nossos impostos para garantir o ensino obrigatório de uma aula cuja lei prevê frequência facultativa? Não tem coerência", disse Kuperman, que se declarou favorável à defesa feita pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
Tags: Educação, IG, Notícias, Religião
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