Extraído do Portal Melodia.
Anna Jarvis, uma americana nascida no fim do século 19 e educada numa forte convicção da fé em Jesus Cristo, passou praticamente toda a vida lutando para que as pessoas reconhecessem a importância das mães. Afirmava que as pessoas não costumam agradecê-las pelo amor que recebem com a devida freqüência.
“O amor de uma mãe é novo a cada dia”, dizia.
Tanto insistiu, que conseguiu: em maio de 1908, a igreja metodista em que congregava realizou a primeira celebração oficial do Dia das Mães. Sem saber, ela estava fazendo história. Ainda que, com o tempo, a data passasse a ser marcada pelo forte apelo comercial, nada tirou o brilho e a profundidade das comemorações de uma relação de amor e compromisso que só encontra referência superior no próprio relacionamento do ser humano com Deus. Todo cristão tem esta certeza: a maternidade foi instituída pelo Senhor como uma forma de fazer a sua Criação adquirir suas mesmas características no cuidado, na proteção e no amparo aos filhos, como uma espécie de herança genética. Para muitos teólogos cristãos, ela pode ser associada à função eclesiástica, ou seja, representa a Igreja gerando vidas para Deus, que sofre dores de parto até ver a alma consolidada em Cristo. Assim, o papel da mãe na estrutura familiar assemelha-se à coluna que doutrina, que exerce a maior influência sobre os filhos e é o esteio do marido.
“É nesta função de ajudadora e doutrinadora dos filhos que a mulher encontra sua realização pessoal”, afirma a psicóloga cristã Maria Bassoukou, membro da Igreja da Fé Cristã, em São Paulo. A partir de sua experiência de 13 anos de atendimento e aconselhamento, ela comenta que a maternidade é considerada um privilégio, um sinal da bênção do Senhor, e que a única relação que a suplanta, na vida de uma mulher, é a que ela mantém com seu Deus. No entanto, ela acredita que a mulher atual, cheia de atividades, que trabalha fora, que ajuda no orçamento e que, muitas vezes, é a única voz de comando da casa — pesquisas recentes do IBGE apontam que, em cada dez famílias, quatro são chefiadas por mulheres — vê-se despreparada para a maternidade. Maria Bassoukou explica que pode haver uma tentativa, por parte da mulher, de fugir desta realidade, criando muitos argumentos para defender-se de si mesma ou buscando uma estrutura própria, que fere os princípios estabelecidos por Deus.
“A meu ver, toda estrutura é voltada às seguintes prioridades: primeiramente, Deus; depois, o cônjuge; em seguida, os filhos; em quarto lugar, o ministério ou o trabalho. Quando esta ordem é quebrada, privilegiando-se mais o trabalho, do que os filhos, por exemplo, haverá desestabilidade em todo o núcleo familiar”, diz. Segundo a psicóloga, este desequilíbrio sempre converge para a figura da mãe ausente ou superprotetora. “Para provar que ama os filhos, uma mulher não precisa ficar 24 horas por dia grudada nele. Ela pode ter um tempo razoável, de acordo com suas atividades, mas a qualidade do tempo que fica com o filho é determinante. O pólo oposto da negligência é a superproteção, cuja raiz é a rejeição por motivação errada para gerar e ter este filho. É uma tentativa de dissimular a vontade de não ter tido aquele filho por vários motivos. Ambos os sentimentos de ausência e superproteção denotam uma desestabilidade da mãe.”
Virtude e responsabilidade Após alguns percalços entre a carreira profissional e a criação dos dois filhos, a consultora de Marketing da Darling Lingeries, Mônica Serrão, encontrou no conceito bíblico de maternidade o equilíbrio que tanto buscou como mulher e como mãe. Convertida desde 1998 e mãe de pré-adolescentes, Mônica interrompeu suas atividades profissionais por conta do nascimento de seus filhos. Após o divórcio, teve que retomar a carreira. “A mulher divorciada sente-se muito carente e culpada ao mesmo tempo. O lar se divide, o casamento morre e ainda é preciso carregar o fardo de ser pai e mãe ao mesmo tempo. Inevitavelmente, cria-se uma lacuna no relacionamento entre a mãe e os filhos”, analisa. Personagem de uma história comum nos dias de hoje, ela encontrou plenitude no relacionamento com a família após assimilar uma ótica diferente das questões cruciais da maternidade. “O aprendizado bíblico ensinou-me a ser mulher virtuosa e ter Deus como o maior supridor das minhas necessidades.
Através disto, exerço o papel de mãe e provedora, com responsabilidade e plenitude”, afirma. Mas nem sempre é fácil entender que pode haver equilíbrio entre a maternidade, a profissão e as escolhas pessoais, sobretudo quando a mulher está longe dos princípios de Deus. É neste espaço que a Igreja precisa atuar, ajudando mães e filhos abalados por uma relação familiar distorcida a estabelecer, de forma correta e dentro da visão bíblica, as prioridades da vida em comum. A compreensão do papel da mãe fica muito mais fácil, tanto para ela quanto para os filhos, a partir das referências divinas. Geruza Gondim, pastora da Igreja Betesda, em São Paulo, traça um paralelo entre o ministério pastoral e o da maternidade. Em sua opinião, há necessidades de limites e disciplina. A tarefa complica-se ainda mais para quem, como ela, precisa conciliar as duas tarefas. Afinal, a dificuldade de conciliar tempo entre o trabalho na igreja e a atenção necessária para um desenvolvimento saudável dos filhos não poupa nem uma líder. “Tem uma diferença”, afirma.
“Se deixarmos, a igreja toma quase o tempo integral de um pastor, principalmente nos fins de semana, que é exatamente quando os filhos estão de folga da escola e das atividades extras, e querem a atenção da mãe para passear, ir ao cinema etc. Deve haver muito discernimento para estabelecer o limite e não se envolver a ponto de abandonar os filhos.” Estudante de psicologia, Geruza vai além no paralelo entre a maternidade e a igreja ao explicar que a família é o melhor retrato do relacionamento de Deus com seu povo. “Devemos ter em mente que uma família saudável gera uma igreja saudável que, por sua vez, gera uma sociedade saudável. Sempre devemos lembrar que um pastor, pastora ou obreira mal-sucedidos no âmbito familiar tem muito mais dificuldades para administrar a igreja.” Pregação particular Geruza lembra que uma reclamação comum entre os filhos de pastoras é o fato de serem constantemente cobrados por um comportamento mais exemplar do que os outros. “Creio que é mais ou menos como ser mãe ou pai psicólogo.
Os filhos de psicólogos geralmente acham que estão sempre sendo analisados dentro do próprio lar. Da mesma forma, os filhos de pastores são constantemente policiados com pregações particulares praticamente o dia inteiro, todos os dias de sua vida. Se não tomarmos cuidado, nossos lares podem se tornar verdadeiras prisões espirituais para os filhos, não lhes dando espaço para a tentativa de se desenvolver, criar sua própria identidade e até mesmo suas próprias convicções.” A mãe pastora, por sua vez, sofre com problema idêntico: ela é mais cobrada pela igreja e, eventualmente, até mesmo pelos filhos. “Como você pode pregar sobre amor se não está me amando agora?” Aqui está um pequeno exemplo de manipulação que mães envolvidas no ministério pastoral costumam enfrentar. Em meio a tanta observação e cobrança, o risco de se proporcionar uma educação muito repressora é tão grande quanto o de ultrapassar os limites da liberalidade. “Se os filhos de uma pastora falharem, a culpa pode ter sido dela por ter sido ausente. Mas se não estiver presente em todos os trabalhos da igreja, há cobrança dos diversos ministérios”, diz Geruza, resumindo o conflito. Estando ou não no púlpito, fato é que toda mãe também representa uma referência Para a pastora Geruza, mães que exercem ministério devem ser muito cuidadosas na criação dos filhos
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